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Foto do escritorGabriela Mangelardo

Ensino Híbrido: a realidade pós-pandemia

Atualizado: 22 de mar. de 2022

O que dizer de um cenário pós-pandêmico?


Todos nós tivemos que nos ressignificar, seguir em frente, trilhar novos caminhos e avaliarmos antigos paradigmas que faziam parte das nossas vidas em um cenário anterior. Não sabemos quando a pandemia irá finalmente se dissolver em meio às políticas públicas de vacinação, porém, é importante falarmos a respeito de uma realidade pós-pandemia sim: o Ensino Híbrido.


É fato: o Ensino Híbrido veio para ficar, sendo que o mesmo já era uma tendência a se concretizar por intermédio das tecnologias digitais de informação e comunicação. Mas, o que realmente significa esse híbrido?


É uma implantação no processo de ensino e aprendizagem no qual o estudante assume um papel mais participativo desde a resolução de problemas, desenvolvimento de projetos e a criação das próprias oportunidades da construção do seu conhecimento tendo o professor um papel de “consultor do aprendiz”.


3 Questões fundamentais para compreender os benefícios do Ensino Híbrido:


1 – O estudante dita o seu próprio ritmo: mencionamos anteriormente a respeito das vitrines sociais e a construção de identidades formadas dentro de um cenário de interação social, correto? Pois bem, tais questões não possuem um tempo específico para que uma pessoa possa absorver o seu cenário ao redor para formar a sua opinião sobre determinado assunto, seja na moda, no entretenimento, no consumo e até mesmo na sua formação como profissional. Por isso, o estudante através do ensino híbrido pode trabalhar dentro do seu próprio tempo que lhe permita a compreensão necessária. Os vídeos das aulas gravadas, por exemplo, servem como forma do estudante assistir quantas vezes quiser e dedicar assim uma atenção maior aos conteúdos que possui certa dificuldade.


Mas nisso, a instituição necessitará de um respaldo tanto da sua plataforma digital quanto também da Experiência do Usuário (termo denominado atualmente como UX – User Experience) para que o mesmo se sinta à vontade com as ferramentas disponibilizadas pela própria faculdade a fim de simular um laboratório virtual, simulação e até mesmo animação com o intuito de afunilar ainda mais os conhecimentos desse aluno.


2 – Incentivo à autonomia: muito se tem ouvido falar dos estudantes nas últimas décadas a respeito do despreparo profissional no mercado de trabalho após a sua formação. Isso porque a maior parte das universidades hoje, sejam elas públicas ou privadas, possui um modelo de ensino ainda comparado aos modelos institucionais do século 19. A autonomia está na formação do indivíduo dentro de uma sociedade, assim como a tecnologia possibilita que todos nós sejamos protagonistas do nosso próprio jeito de narrar nossas histórias de vida.


Nisso, as instituições precisam trabalhar com o intuito de esclarecer as dúvidas em sala de aula e fazer com que os momentos presenciais possam servir para os debates a respeito do aprendizado que o estudante teve dentro da sua jornada de estudo que ele mesmo fará a partir das tarefas e autoavaliações da instituição, podendo assim haver a troca de experiências com outros estudantes que também passam pelo mesmo processo educacional de ensino.


Com isso, o estudante se vê apto ao mercado de trabalho, pois o mesmo foi o responsável pela sua formação com o intuito de saber lidar com o mercado de trabalho e de qual maneira ele mesmo poderá somar em outras instituições, ou de maneira autônoma, os seus próprios caminhos dentro de uma sociedade.


3 – A autoavaliação como potencializador no processo de ensino, aprendizagem e na construção profissional: o Sociólogo da Comunicação, John B. Thompson no livro Mídia e Modernidade traz um conceito da Psicologia, o self, como a experiência do indivíduo em um mundo mediado e como isso interfere na sua construção enquanto cidadão em um mundo globalizado. O Eu, que seria esse self, necessita customizar a sua própria rotina de aprendizado e absorver do mundo o que de melhor ele precisa para viver e trabalhar. Nesse sentido, o próprio estudante pode ter na sua autoavaliação uma autonomia em saber lidar com as suas dificuldades e utilizar do professor como um mentor que assegurará quais ferramentas e possíveis caminhos podem ser trilhados para a melhor compreensão desse estudante.


A Regulação do Ensino Híbrido e o Design Educacional


Os gestores da Instituição Acadêmica precisam se atentar aos parâmetros relevantes do tema Ensino Híbrido desde a sua regulação ao design educacional das disciplinas digitais, incluindo suas metodologias, conteúdo e currículo. Para isso, a equipe integrante da IES necessita ter um caráter multidisciplinar para que a área da Educação possa estar atrelada à convergência digital.


O aumento da procura do corpo diretivo acadêmico a respeito do Ensino Híbrido foi potencializado por duas questões: 1) a publicação da Portaria 2.117/2019 no Diário Oficial da União, de que os cursos presenciais puderam a partir dela oferecer até 40% da carga horária a distância; 2) a pandemia e a necessidade de implementar o estudo remoto e a disponibilização de disciplinas por intermédio do digital.


Porém, a dúvida que muitos gestores possuem é: como percorrer um caminho consolidado no ensino híbrido se o caráter regulatório nos centros universitários permeia apenas duas modalidades, o ensino presencial e o ensino a distância?


Primeiramente, o Ensino Híbrido não se trata dos mesmos critérios de um ensino a distância, isso porque a transmissão online das aulas não é a filosofia principal do blended learning (outro termo utilizado para Ensino Híbrido). A diferença é que esse último tem por objetivo o planejamento de uma instituição na promoção da aprendizagem dentro das Metodologias Ativas de Ensino, que percorre assim o engajamento do próprio estudante no seu desenvolvimento acadêmico ao longo do curso.


O Design Educacional das disciplinas digitais


O design educacional, também conhecido como design instrucional, trata-se da reunião de métodos, técnicas e recursos dentro do processo de aprendizagem do estudante, que consiste em, parafraseando Andréa Filatro no livro “Design Instrucional Contextualizado: educação e tecnologia” (Editora Senac SP, 2019) planejar e desenvolver métodos, atividades, materiais e técnicas em situações didáticas específicas na facilitação da aprendizagem humana a partir dos princípios de aprendizagem e instrução conhecidos.


Em resumo, o design educacional consiste em construir materiais que sejam facilitadores no processo de ensino e aprendizagem na construção de formatos que possam estar adaptados ao modelo de Metodologia Ativa em um ambiente híbrido. Os profissionais que trabalham do Design Educacional preocupam-se constantemente em acompanhar os processos de aprendizagem da instituição para ver se, de fato, ocorreu a existência das habilidades e capacidades dentro do conteúdo programático.


As etapas dentro de um design educacional consistem em alguns aspectos que ajudam a mapear alguns conceitos dentro de um planejamento educacional. São esses:

  1. Analisar

  2. Estruturar

  3. Desenvolver

  4. Implementar

  5. Avaliar


Analisar consiste em estudar o público-alvo bem como os objetivos da aprendizagem e a avaliação de métricas. Neste ponto é necessário que a IES responda algumas questões como: qual o público-alvo da instituição e os resultados atuais? Quais as forças e fraquezas da Instituição e os resultados esperados? Quais as oportunidades e ameaças? Essas perguntas de análise são as mesmas de uma Análise Swot de todo e qualquer ambiente institucional.


Estruturar consiste na elaboração de pensar na maneira de como os conteúdos serão disponibilizados e as melhores plataformas para a elaboração desse tipo de material. Isso deve ser estudado juntamente a um design educacional que possa responder perguntas como: qual formato o público da instituição pode aprender melhor? O que precisa de fato ser ensinado? Quais os principais objetivos dentro do modelo híbrido de ensino e aprendizagem?


Desenvolver já é a fase do desenvolvimento, como o próprio nome diz. O foco é fazer com que as primeiras etapas sejam colocadas em prática a fim de ver os resultados de aceitação e aproveitamento do público-alvo.


Implementar diz respeito se o processo da própria implementação dos itens anteriores teve aceitação e o objetivo esperado dentro da disponibilização dos conteúdos e materiais produzidos aos estudantes da Instituição. A partir da aceitação das mesmas, caberá assim a Instituição adotar tais modelos dentro da própria cultura educacional da instituição.


Avaliar é a etapa final que tem como objetivo analisar todos os processos descritos acima e medir os resultados e pontos atingidos. Assim podem passar a desenvolver de maneira mais contundente ações que estejam dentro dessa produção institucional baseada nas Metodologias Ativas como no processo de construção de modelos educacionais que estão de acordo com os objetivos e necessidades dos estudantes locais.


Com isso, o Design Educacional é um modelo prático para avaliar de maneira analítica e criteriosa a respeito dos passos aqui elencados de forma eficaz e objetiva, mensurando resultados e proporcionando o crescimento da IES dentro do que chamamos das Metodologias de Ensino e Aprendizagem.


O Ensino Híbrido não é apenas mais uma nova dinâmica de ensino, mas uma quebra de paradigmas na própria Educação que necessita da preparação dos professores, de uma mudança de mentalidade do corpo diretivo acadêmico e também proporcionar que a Educação esteja interligada ao entretenimento.


Mas o que significa estar ligada no entretenimento?


O entretenimento por si só não está apenas relacionado ao consumo de produtos estabelecidos pela indústria do cinema ou do streaming, por exemplo, mas sim no conjunto de fatores que viabilizam o ensino em diferentes plataformas digitais como as próprias redes sociais, a criação de podcasts e videoaulas.


O entretenimento dentro do ensino acadêmico é algo a ser estruturado dentro de um ensino híbrido capaz de fazer com que a convergência digital esteja dentro das narrativas de aprendizado do aluno que vivencia a tecnologia no dia a dia.


O entretenimento educacional serve para responder algumas questões:

  1. De que forma a tecnologia pode envolver o estudante utilizando as plataformas digitais de ensino?

  2. De que maneira a sua instituição pode oferecer ao mercado local, diante as demandas regionais, um cenário tecnológico para a formação de novos profissionais?

  3. A estrutura educacional tem de oferecer conteúdo suficientes e produtos que possam fazer com que o estudante consuma tudo o que é produzido pela instituição de maneira online?


Esses são alguns questionamentos fundamentais para que a sua instituição possa estar integrada aos novos modelos de ensino e aprendizagem mediante as novas tecnologias e ainda mais tratando-se de um cenário que vivenciamos hoje de pandemia.


Então, a sua instituição está preparada para vivenciar esse novo momento? O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925 – 2017) é um dos autores que mais se debruçaram no quesito “Modernidade Líquida” (termo criado pelo sociólogo como forma de contrapor o conceito de Pós-Modernidade).


Na sua obra “Vida para o Consumo” (Editora Zahar, 2007), Bauman discute a respeito das vitrines que vivenciamos hoje fora dos estabelecimentos comerciais, mas na formação de identidades que se veem em um constante processo de construção por intermédio do outro. Fazemos parte hoje de vitrines sociais, onde nos espelhamos e também nos influenciamos de acordo com o outro. Nesse quesito, o que a Instituição de Ensino Superior tem a ver com tal situação?


Como todos nós somos responsáveis em gerirmos as nossas próprias qualidades em um cenário de interação social, cujas redes sociais são palcos desses encontros constantes de comunicação e venda, o ensino também é uma forma de vitrine na qual as pessoas se espelham para formarem suas opiniões quanto a tomada de decisões quanto aos seus desejos e planejamentos futuros quanto a uma carreira profissional.


Dessa forma, o estudante hoje necessita de uma postura mais participativa na resolução de problemas e desenvolvimento de projetos a fim dele próprio criar o seu processo de ensino e aprendizagem do seu conhecimento. Nesse caso, o professor é apenas o maestro que irá orquestrar os músicos da intelectualidade mediante a uma composição, porém, os mesmos irão se espelhar uns nos outros dentro da melhor forma de se tocar a música juntamente a equipe que participa da execução de uma obra.


Tais quebras de paradigmas com relação ao ensino do século 19 com professores do século 20 são praticamente que naturais diante o movimento do crescente avanço tecnológico nas sociedades, sendo assim de grande benefício para o processo de ensino e aprendizagem.


No ensino híbrido, o estudante tem contato com as informações antes de entrar em sala de aula. A concentração nas formas mais elevadas do trabalho cognitivo, ou seja, aplicação, análise, síntese, significação e avaliação desse conhecimento que o aluno construiu ocorrem em sala de aula, onde ele tem o apoio de seus pares e do professor. O fato de o estudante ter contato com o material instrucional antes de adentrar a sala de aula apresenta diversos pontos positivos.

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